quinta-feira, 12 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 10

10.1 Momotaro: Sacred Sailors / Momotaro: Divine Sea Warriors 

10.1 - Quem é Momotaro?



Momotaro é uma personagem popular do folclore japonês, sendo breve em minha descrição do mesmo, é um garoto que nasceu de um pêssego, que foi  encontrado num rio por uma idosa lavadeira - importante pontuar que, Momotaro é a junção das palavras: Momo (pêssego em japonês) Tarō (palavra em japonês que significa: 'o filho mais jovem de uma família'). 

Em sua estória, Momotaro sai da casa de seus pais adotivos quando ainda era jovem, com o propósito louvável de lutar contra os Oni - demônios, ogros e monstros da cultura japonesa - que estavam saqueando suas terras, por isso o seu destino principal é uma ilha dos Oni, onde - obivamente - eram onde os Oni ficavam; durante a caminhada, Momotaro conhece parceiros dessa sua jornada: um macaquinho, um cachorro e um pássaro, no qual irão ajudar Momotaro nessa batalha em troca de bolinhos de milho. Chegando na ilha dos Oni, o menino do pêssego e seus amigos derrotam os Oni, saqueam um tesouro da ilha e voltam para casa com o tesouro e um chefe dos demônios, que após a derrota já não era mais uma ameaça.

Momotaro é um conto que surgiu da forma contada e sua versão escrita demorou mais de duzentos anos para ser feita, tudo evidencia que a estória surgiu durante o período Muromachi (1392-1573) e até o período Edo (1603-1867) Onde Momotaro finalmente foi concretizado por publicações literárias no Japão; dito isso, as versões mais antigas da obra, e que temos o conhecimento de sua existência, surgiram durante a era Genroku (1688-1704) - a era Genroku se passa dentro do período Edo - essas versões estão perdidas; A escrita japonesa surgiu no período Yayoi (1000 a.c - 300 d.c), e foi no período Kofun (250 d.c - 538 d.c) onde começaram a adotar os Kanjis na escrita, assim, dando um salto na história da escrita japonesa, foi no período Edo, surgiu os Kusazōshi, que é um termo que abrange vários genêros de literatura que são ilustradas e impressas em xilogravura, esse formato de literatura durou até o inicio do período Meiji (1868 - 1912); e foram nos Kusazōshi, que Momotaro foi disseminado na cultura japonesa. 

Em suma, como já escrevi nesse texto, os textos mais antigos da era Genroku estão perdidos, todavia, existe uma versão de Momotaro que foi feita durante a era Kyōhō (1716 - 1736) que é como um livro de bolso feito em 1723, que se tornou a cópia mais antiga existente de Momotaro, porém, antes dessa descoberta, a versão mais antiga era a versão de 1777 feita durante a era An'ei (1772 - 1781), que é uma reimpressão da obra que foi basilar para a popularidade da história na cultura nipônica. O conto do menino nascido do pêssego, foi publicado em vários formatos, tanto em livros mais direcionados ao público adulto, quanto publicações direcionados ao público infantil, como o já mencionado: Kusazōshi.

Como Momotaro é uma obra que foi escrita, contada e interpretada em diferentes eras da história japonesa, é quase que inevitável a aparição de diferenças  em diversas versões da obra, a ordem de aparição dos animais que iriam fazer parte da equipe de Momotaro é algo que foi modificado em algumas versões, por exemplo, sem falar que existem versões onde Momotaro não nasce de um pêssego, e sim, nasce de uma mulher que come um pêssego, fica anos mais nova, e assim, dá a luz ao jovem guerreiro. 

É fulcral mencionar que, durante o período Meiji (1868 - 1912) 
Iwaya Sazanami escreveu diversos contos sobre o Momotaro, aliás seus contos sobre o Momotaro foram incluidos aos livros didáticos das escolas primárias japonesas em 1887 - Sazanami em 1906 iria ingressar no ministério da educação japonês; essa integração dos contos de Momotaro catapultaram ainda mais a popularidade da personagem com as crianças, sem falar que os contos de  Iwaya Sazanami públicadas em coletâneas de contos populares do Japão, foram de um grande sucesso comerical. Em 1894, Sazanami escreveu um conto onde Momotaro era retratado como um general militar do Japão, como sempre, a personagem luta contra os Oni, entretanto, a partir de 1895 pelo fato de estar 
estava ocorrendo a Primeira guerra Sino-japonesa (1894-1895) os demônios e ogros deste conto tomaram um novo papel semiótico na obra, eles eram como uma representação da disnastia Qing da China, estimulando o discurso de  uma superioridade japonesa durante essa primeira guerra.

Essas adaptações do conto para sustentar os discursos imperialistas japoneses com o passar das eras nipônicas, se tornaram cada vez mais comuns; na era Taishō (1912 - 1926) , a leitura feita do objetivo narrativo dos Oni na estória poderia ser associada ao fato deles serem estrangeiros, sim, eles não eram punidos por saquearem as terras de Momotaro, agora, eles eram punidos por serem... estranhos? Bem, essa releitura dos papéis dos Oni na obra foram tão abruptas e estranhas, que pessoas associadas ao liberalismo japonês protestaram contra essa adaptação da obra, alegando que isso poderia influenciar as crianças a associarem os Oni aos imigrantes que estavam chegando no Japão na época, o que não adiantou em muita coisa, pois na próxima era, com o imperador Hirohito assumindo a terra do sol nascente, as coisas - definitivamente - pioraram, e pioraram muito! 

No início era Showa (1929-1989), o conto de Momotaro se tornou a história de um sádico imperialista, roubando os tesouros dos Oni da ilha deles, sem motivo ou razão aparente, Momotaro só tinha o desejo por dominar os espaços, não de se vingar pela opressão sofrida; foi lendo a adaptação de Momotaro dessa época, que tive a maior reflexão sobre o conto de Momotaro, ele havia se tornado uma forma de impedir a libertação da educação japonesa, construindo pensamentos imperialistas em cima da futura sociedade nipônica; "Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser o opressor" (FREIRE, 2003, p. 47, Pedagogia do Oprimido) 

Momotaro, foi a personagem usada para aprisionar a educação japonesa, e por tabela - mesmo que por ironia do destino - a personagem que não existe, que no início sua primeira história ela era oprimida pelos vilões da história, se tornou uma personagem opressora, atendendo a agenda imperialista japonesa da época, fomentando esse sentimento totalmente equivocado de uma superioridade nipônica.

E é aqui! Finalmente, chegamos no primeiro curta de Momotaro, mas isso fica para o próximo texto, sobre esses filmes; só esse texto introdutório já foi maior do que a grande maioria das resenhas deste blog, melhor separar tudo pra ficar mais organizadinho, né?

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