sexta-feira, 13 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 11

 10.2 Momotaro: Sacred Sailors / Momotaro: Divine Sea Warriors 

Prólogo:

Durante minhas pesquisas, esbarrei com uns curtas curtíssimos de Momotaro, ainda não conseguir assistir-los até o momento da escrita dessa resenha - Talvez, no futuro, assitirei essas obras - Dito isso, obviamente farei um recorte temático, e falarei apenas de Momotaro Sea Eagles, que já tem uma resenha feita nessa maratona, e o filme protagonista deste texto, Momotaro: Sacred Sailors - também conhecido como Momotaro: Divine Sea Worriors.  

10.2 - Os filmes de Momotaro.

Como escrito no último texto: Momotaro no início da era Showa, foi inserido novamente nos livros didáticos japoneses, se tornando um ícone do patriotismo nipônico, afinal, utilizavam-se de sua história para trazer uma reinterpretação da obra, junto com pequenas alterações, para fazer com que a história fosse mais um combustível para o imperialismo durante períodos de guerra; essa manipulação da obra folclórica foi feita durante a primeira guerra sino-japonesa, durante a guerra Russo-Japonesa (1904-1905) no qual, desenhos onde Momotaro derrotava os Oni - desta vez representados como Russos - foram distribuídos no Japão, além de que, Iwaya Sazanami - quem escreveu e deu o início para este relacionamento entre o patriotismo sádico e o Momotaro - quando estava trabalhando no ministério da educação, escreveu um livro inteiro sobre como utilizar o conto de Momotaro como instrumento educacional - esse livro é de 1915. Saltando na história, chegamos na segunda guerra mundial, onde Momotaro foi usado em animações para lutar contra os Aliados. Sim! Desta vez, Momotaro não iria lutar contra Oni que iriam representar os inimigos daquela época, e sim, iria lutar explicitamente contra representações caricaturais dos Aliados, seres humanos mesmo.

Compreender a história por trás desses filmes é muito encantador e interessante, pois, o diretor dessas obras é uma figura que com certeza vai te intrigar bastante, Mitsuyo Seo, dirigiu tanto Momotaro Sea Eagles quanto Momotaro Sacred Sailors, e pasmem, que figura interessante! Mitsuyo, é um cineasta e animador de esquerda, tendo feito parte até da Liga ploretária de cinema do Japão; um ponto importante de sua vida é que em 1931 ele foi preso por suas atividades, no qual foi preso por vinte e um dias e torturado também. 

Mitsuyo Seo é um pioneiro da animação japonesa, em 1933, ele trabalhou com Kenzo Masaoka no primeiro filme de animação japonesa com som da história o: Chikara to Onna no Yo no Naka, sem falar do curta que dirigiu o: Ari-chan, que foi lançado em 1941, o primeiro curta de animação japonesa a usar câmeras multi-plano. Não consegui achar como e quando exatamente Mitsuyo e sua equipe foram chamados para trabalhar no primeiro filme de Momotaro, esse que por um tempo foi considerado o primeiro filme longa metragem do Japão, mas por conta de ter menos de uma hora, foi desconsiderado, e sua sequência foi canonizada, porque, essa sim, tem mais de uma hora. Aliás, Momotaro: Sea Eagles quase foi o primeiro filme asiático em longa metragem, só perdeu esse mérito por conta de um filme que foi lançado dois anos antes na China, o: Princess Iron Fan (1941).

Fazendo uma rápida análise deste poster de Momotaro: Sea Eagles que anexei na resenha, podemos observar personagens Norte Americanos - como o Popeye e a Betty Boop - sendo atacados por aviões japoneses, uma das marcas registradas das animações de Momotaro é o uso não autorizado desses personagens de animações populares dos Estados Unidos - por mais que na arte é possível ver o Popeye e a Betty Boop, esses personagens não aparecem no filme, o único que aparece nos dois filmes é o Brutos, já o marinheiro caolho, apenas aparece no segundo filme.

O primeiro filme de Momotaro é mais fiel ao conto japonês, contudo, nesse filme, é feito um recorte narrativo, onde do conto é apenas aproveitada a parte da invasão à ilha dos demônios, que na verdade, nem são demônios, são soldados norte americanos, e a ilha é a base naval de Pearl Harbor; não preciso me estender aqui, é auto-explicativo. Momotaro é o único personagem humano no lado do Japão, o resto do elenco da terra do sol nascente é composto por animais, esses que são exatamente aquele que fazem parte do conto original, um cachorro, um faisão e um macaquinho - claro que tem outros animais no filme, mas os que mais tem tempo de tela são esses, aliás, os macaquinhos são os protagonistas da cena mais pesada do filme inteiro - Esse primeiro filme é o mais violento dos dois, pois ele é focado no ataque, diferente do segundo, onde vemos o ataque ocorrer na ultima metade do filme.

Momotaro: Sea Eagles, foi encomendado pelo ministro naval japonês da época, assim como o segundo filme, ambos foram um sucesso, o propósito do filme era retratar o ataque de maneira leve e divertida, afinal, com animais fofinhos matando milhares de soldados americanos, a tensão da situação seria diminuída, fazendo com que não houvesse uma certa hesitação em assistir o curta por parte dos cidadãos japoneses; o filme foi um grande sucesso entre as crianças, afinal, o primeiro curta de Momotaro trazia a comicidade dos curtas Looney Tunes, a fofura dos  personagens antropomórficos e a personagem do Momotaro que era popular na época, por conta dos fatores já explicados ao longo desse texto. Com tanto sucesso, pediram novamente para que Mitsuyo Seo fizesse outro longa sobre Momotaro, e assim surgiu o primeiro longa metragem de animação Japonês.




Momotaro: Sacred Sailors, tem uma roupagem totalmente diferente do primeiro filme, pelo fato de que um dos pedidos feitos pelos produtores do filme ao estúdio, era que esse filme deveria se basear no filme: Fantasia de Walt Disney; Momotaro dessa vez, não seria mais um cartoon com planos simples, e com cenas recheadas de gags - não, não - Momotaro, dessa vez iria ser um filme com uma narrativa complexa, com planos de câmera inventivos, com momentos musicais e cenas com conceitos que contam a história de diversas maneiras diferentes.

O segundo longa de Momotaro, por mais que ele carregue uma mensagem muito datada e errada, ele contém cenas muito interessantes, como a cena onde dentes-de-leão voam pelo ar e isso é utilizado como uma forma de representar as memórias de guerra de um dos personagens do filme, como se aquelas flores fossem como soldados de paraquedas saltando de seus aviões em meio a um ataque. Sacred Sailors, é bem mais tranquilo no quesito: violência, pois aqui, a lavagem cerebral imperialista é feito por meio do pacing da obra, é um filme sobre a valorização do Japão, mostrar como as forças armadas são de extrema importância para o país; e isso faz com que o longa tenha vários momentos músicais, cenas de personagens trabalhando para as forças armadas, falando de como é participar de uma missão feita por ela, etc. Para criar essa imagem idealista dos soldados, e também para que ao chegarmos no último ato do filme, os ataques cheios de crueldade dos japoneses sejam amenizados, algo parecido com aquela técnica narrativa: o Save The Cat.

Tem uma parte no filme lá pro final dele, onde há um momento de exposição - e eles utilizam uma técnica de animação que talvez seja rotoscopia, não tenho certeza - e tem um jogo de silhuetas e sombra que é um primor de qualidade narrativa, é algo que me impressionou de verdade quando assisti o filme; por mais que Mitsuyo não tenha se orgulhado de seus maiores projetos em animação, e sinta vergonha por conta dos temas deles, particularmente, esse segundo filme tem tantos momento interessantes, que tem uma potência cinematográfica tão grande, que por mais que eu discorde completamente dos temas do filme, não consigo não admitir que esse filme tem momentos memoráveis e bem dirigidos.

Olha, dizem por ai que a inspiração base para esse filme não foi o conto original de Momotaro, e sim o conto de Viagem ao Oeste, o filme tem paralelos com esse conto, principalmente pelo fator ir até determinado local para tomar algo de determinado vilão, e também pelo fator de que os macaquinhos, aqui, tem um tempo de tela muito maior, até maior do que o tempo de tela do Momotaro em pessoa. Uma coisa interessante, é que sempre em debates e conversas sobre esse filme, o assunto: Osamu Tezuka se inspirou em Sacred Sailors surge de repente, e isso é um fato, realmente Osamu Tezuka se inspirou nesse filme, assim como outros artistas que assistiram o filme se sentiram uma forte admiração pelo trabalho de propaganda, a questão é que no filme biográfico animado de Tezuka o: The Tale of Osamu Tezuka: I'm Son-Goku Film, um filme maravilhoso dirigido pelo excepcional RINTARO, o pequeno Tezuka é tocado por um filme que assiste quando criança, que é um filme sobre a Viagem ao Oeste, no filme biográfico, o filme sobre o Macaco rei é retratado como um filme clássico em preto e branco e que foi feito na China - uma parte de mim quer muito acreditar que na real esse filme retratado no filme do Tezuka, simplesmente é uma metáfora ao Sacred Sailors, e que eles trocaram o filme real por um filme metafórico para evitar questões envolvendo o contexto do filme. Essa teoria faz sentido? Na minha cabeça faz, mas acho que isso é só um cenário hipotético que criei para justificar alguma questão não respondida.

O filme durante a ocupação Norte americana no Japão, foi destruído, afinal o país do sol nascente estava passando por um processo forte de desmilitarização, então qualquer material que poderia remeter as tendências imperialistas devia ser retirado ou destruído; pensava-se que o filme iria se perder de vez com o tempo que nem o que ocorreu com o primeiro longa de animação da história o: El Apóstol. - E com a primeira animação Brasileira da história: O Kaiser - mas em 1983 num depósito da produtora do filme foi encontrado um negativo do filme, que foi remasterizado e teve um relançamento via VHS em 1984.

Sacred Sailors hoje em dia atingiu um status cult, e ele é muito aclamado por críticos de animação em todo o mundo, não por conta de seus temas, mas sim, por conta de suas técnicas de narrativa avançadas, animação muito bem trabalhada - porém, diga-se de passagem, não polida - e cenários extremamente bem desenhados cheio de detalhes e movimento. Pra mim esse filme técnicamente é excepcional, uma pena ele ser recheado de uma história com tanto ódio e patriotismo sádico, que fez com que seu próprio autor passa-se os últimos dias de sua vida lamentando ter participado de um projeto como esses, mesmo tendo feito um dos trabalhos mais importantes da história da animação.

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12. Hana No Ko Lun Lun "Ah Gabriel, mas que porra de onde que  t ú tira a xereca desses anime velho do caralho que ninguém conhece?...