quinta-feira, 5 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 4

 

4. Tonari no Totoro

Beleza, mas quem é essa menina no pôster de Meu amigo Totoro? Cara eu adoro o Totoro, o design dele é tão perfeito, é tão funcional. Não tem como, né pessoal? É o icone máximo da Ghibli; acho que esse é um dos filmes do estúdio que mais sei curiosidades aleatórias sobre, curiosidades essas que eu sabia antes até mesmo de assistir o filme. O carinho improvável que cultivo por esse filme surgiu de maneira tão repentina, imagino que isso só é mais uma prova de que o filme de Hayao Miyazaki conseguiu cumprir seu principal obejtivo.


Veja um trecho retirado de um documento da pré produção do longa Meu Amigo Totoro, que contém detalhes da história e expectativas do diretor em relação ao filme: "Meu Amigo Totoro pretende ser um filme feliz e comovente, que permite ao público voltar para casa com uma sensação agradável e sentimentos alegres." Isso me faz refletir ainda mais como o filme conseguiu alcançar  o que estava escrito nas ideias iniciais do projeto, e pasmém, que objetivo subjetivo!

Imagina se propor a trabalhar em algo que o principal seja trazer aos espectadores um sentimento tão particular ao final da obra, convenhamos, não é qualquer um que faz isso; outra coisa interessante de se pontuar, é o fato deste filme ter sido lançado no mesmo dia de lançamento de - pasmém, novamente - Túmulo dos Vagalumes, do incrível Isao Takahata; Aliás, para promover os filmes, o estúdio Ghibli permitiu dobradinhas com os filmes - no caso, uma sessão onde exibiam os dois filmes de uma vez só - um fato interessante, é que em algumas sessões que começavam com Totoro e encerravam com Vagalumes, o público saía antes do término de Túmulo de Vagalumes, agora, em sessões que começavam com Vagalumes e encerravam com Totoro, o público assistia a sessão até o final; esse efeito ocorria porque o filme de Isao Takahata tratava temas bem tensos, tinha uma carga dramática gigantesca e principalmente terminava com uma conclusão que - definitivamente - não era satisfatória, por mais que eu considere a obra de Takahata como a melhor de todo o estúdio Ghibli quiçá a melhor já feita na história da animação japonesa - quer dizer, desconsiderando Metrópolis 2001, por um momento, claro - tenho que admitir que o final de Túmulo dos Vagalumes carrega tanta tristeza e aflição que particularmente este é um dos motivos que me impede de re-assistir o longa de vez em quando, sabe? Nós encerramos a experiência de Vagalumes com tanta melancolia que sinceramente entendo a galera que assistiu Vagalumes pela metade nas sessões que começavam com Totoro, e entendo mais ainda quem assistiu Totoro até o final nas sessões que se iniciaram com Vagalumes - afinal, o objetivo de Totoro é proporcionar  essa experiência de reflexão e frescor ao público, fazendo com que eles saiam da sessão tomados por emoções de alegria e felicidade. - logo, Meu Amigo Totoro age como um contra-ponto do filme que se passa na segunda  guerra, uma forma de revisitar momentos de quando eramos mais novos de uma ótica carregada de idealismos nostálgicos, diferente do filme de Takahata que trazia melancolia e tristeza as lembranças de um tempo passado.

Nostalgia e infância, são dois temas basilares de Meu Amigo Totoro, Miyazaki adora colocar auto referências em suas obras, além de motifs que de vez em quando reaparecem para enfatizar suas mensagens, por exemplo, o uso de crianças; em Viagem de Chihiro me lembro de ter visto em algum local que ele havia dito que a principal inspiração para o filme foi quando foi para uma viagem de férias com sua familía e amigos, para comemorar o aniversário de 10 anos de uma filha de um produtor cujo o nome não é importante, ele pensou em fazer um filme para jovens garotas, mas algo que fosse diferente do tradicional do que estava sendo produzido na época em relação a filmes para garotas; essa gênese de Chihiro é importante para compreender os trabalhos do MIyazaki, pois desde seus primeiros trabalhos ele sempre esteve questionando as "acomodações" que a industria deixava-se acontecer, - inclusive, isso é algo que permeou por muito tempo em sua carreira, afinal Viagem de Chihiro é um filme que foi feito pós ao seu primeiro anuncio de aposentadoria -  dado que assim haveria uma facilitação para a produção e venda de cultura de massa - inclusive Isao Takahata em algumas entrevistas também faz reflexões parecidas com as do Miyazaki.

Em Totoro, ao final do documento de elaboração do projeto, o diretor ressalta a importância de uma música tema, que fosse fácil de ser cantada pelo público infantil, ele diz: "[...] Músicas-tema de animação são frequentemente usadas para promover ídolos pop. Isso pode estar na moda, mas a complexidade de determinadas técnicas usadas pelos cantores e a restrita gama de estilos musicais usados não captura o coração das crianças. O que as crianças desejam são músicas que possam cantar abrindo bem a boca e levantando a voz. Este filme precisa de uma música que possa ser cantada energeticamente por um refrão." - Por isso o refrão do tema de Totoro é tão chiclete, Miyazaki queria algo simples, pois ele sabia exatamente qual público ele queria atingir com essa aventura, e qual sentimento ele queria evocar, ao simplificar a música tema e fazer com que ela seja tão simples que crianças conseguem cantá-la perfeitamente sem a necessidade de técnicas vocais, aproxima os espectadores mais adultos para obra, por exemplo, as mães e pais que levam suas famílias para assistir o filme; para os adultos, Totoro é uma experiência que convida a reflexão dos velhos tempos, e promove sensações que remetem a um passado perdido - o mundo metafórico que o Miyazaki diz que os jovens e adultos tanto anceiam por conseguir acessá-lo, falei um pouco sobre isso na minha review de Super Grand Prix -  já para o público infantil, Totoro é um filme que instiga o pensamento imaginativo e faz com que elas criem interesse em explorar e cultivar a atual natureza que os cerca. 

Por fim, as personagens Satsuki e Mei representam o lado perdido do diretor, elas são a representação de sua infância, claro, elas são tão bem escritas que elas conseguem ultrapassar essas camadas de apenas serem uma representação do Miyazaki, e se tornam além de uma homenagem pessoal aos velhos tempos, como personagens chave para que o próprio público se sintam representados nelas; as cenas delas descobrindo cada local da casa e da vila onde se passa o filme são formas de dinamizar o filme e impulsionar a quailidade narrativa do pacing da obra. Além de que são elas que promovem as maiores reflexões em relação as mensagens que o filme explora.

Existem ainda vários tópicos para se abordar sobre Totoro, por enquanto, pelo fato daqui ser um pequeno registro, não exatamente uma crítica completa, vamos apenas fechar esse texto concluindo, que, Meu Amigo Totoro, é perfeito em seu principal objetivo, e ele só é perfeito por conta de uma direção responsável e bem embazada e construída.  


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