terça-feira, 24 de agosto de 2004

O Fim de Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 13


12. Hana No Ko Lun Lun

"Ah Gabriel, mas que porra de onde que tú tira a xereca desses anime velho do caralho que ninguém conhece?" Nunca me perguntaram isso, mas se me perguntarem um dia, irei responder: "Não vou até os animes, eles chegam até mim, e é por isso que tenho tanto medo do que pode chegar, afinal não é todo dia que chega um anime como esse" ai nesse momento do diálogo hipotético, eu iria apontar meu dedo para um poster em a4 de Hana No Ko Lun Lun. Após isso a pessoa iria dizer que eu não respondi a pergunta iriamos brigar, provavelmente tudo isso iria se encerrar com textos e mais textos amargos enviados uns aos outros via internet.

Só sei que eu dei play no anime, e quando vi, já tinha assistido alguns episódios, Hana No Ko Lun Lun, é um daqueles casos engraçados de animes que  fizeram mais sucesso fora do Japão do que dentro do Japão, aliás, vamos deixar de usar o nome japonês, que tal nos referirmos a ele pelo nome que foi conhecido por aqui: "Angélica" ou "Angel, A Menina Das Flores". Sim, ele teve dois nomes aqui no Brasil, foi exibido em três canais diferentes, e mesmo assim tudo que temos comprovando a existência de uma versão brasiliense desse anime é uma abertura em pt br.

Confesso que já esbarrei com muitos casos de animes com dublagens perdidas aqui no Brasil, como: Sawamu, O Demolidor, por exemplo. Lembro de ter visto um cara que tinha todos os episódios dublados em um dvd, episódios esses que nunca encontrei em nenhum local para baixar, ou assistir na internet - olha, isso me irrita bastante, não apenas o fato de determinada midia estar provavelmente perdida, mas casos onde é midia arquivada; onde sabemos que determinada pessoa tem, mas essa pessoa não quer liberar o material, por puro... ego, talvez? Pois, em alguns casos, essas midias arquivadas já estão tanto tempo guardadas após sua transmissão oficial, que upar um rip delas já deixou de ser pirataria, e se tornou um documento histórico, um verdadeiro retrato de um momento na história da cultura Brasiliense mesmo. Acho que não irá ser necessário me aprofundar aqui no quesito: "se recusar a disseminar um material que é um documento basilar para pesquisas sobre a história de determinado momento", é bem evidente que uma atitude dessas é algo bem questionável de se fazer.

Não sei qual é o caso de Angel, todavia ainda é um pouco engraçado que os outros dois animes que tem uma estética parecida com Angel - Honey Honey e Candy Candy - também tiveram sua exibição aqui no Brasil, e também suas dublagens se perderam; o caso de Angel é interessante, pois, ele teve três exibições aqui no Brasil, uma na Record, outra na Tv Gazeta e outra exibição no Sbt, apontar que talvez esses episódios exibidos no sbt, se perderam por conta das enchentes que atingiram o sbt nos anos 90, faz sentido, porém, o que ocorreu com as outras emissoras? Três exibições, e tudo que temos é uma abertura? 

Sem falar que as outras evidências que esse anime teve sua passagem por aqui, são os vários relatos que podemos encontrar em blogs, vídeos que citam o anime; e isso é outra coisa muito interessante, afinal, a geração que acompanhou Angel, talvez seja uma das últimas gerações a passar por esse tipo de situação, no caso: Assistir um determinado material que no futuro, iria se tornar perdido, e as poucas provas de sua existência são as memórias daqueles que assistiram na época; claro que existiram outros casos assim em futuras gerações, mas a geração de Angel, com certeza deve ter sofrido ainda mais com isso, pois, Angel é apenas um dos casos - Sim, casos no plural! - Isso não aconteceu apenas com animes, aconteceu com desenhos animados, filmes, programas de tv, novelas e músicas. A lista é enorme, aliás, devem ter um monte de material que a gente nem sabe de sua existência, pois as pessoas que já assistiram já morreram, ou as poucas que lembravam, se esqueceram com o tempo.

Esse anime é perfeito para concluirmos a maratona desse ano, pelo fato dele ter esse significado muito maior do que a própria obra, esse anime não teve um registro de sua dublagem, por isso se perdeu, passou por um processo de "deseternização" (neologismo is my passion) diferente do que estou fazendo aqui, enquanto escrevo nesse blog, quando falo sobre essas obras, sobre meus sentimentos em relação a elas, por mais que algumas sejam mais profundas e outras mais rasas, estou eternizando minha experiência com essas obras, estou concretizando minhas ideias, e talvez, deixando para as gerações futuras um registro de como pensei, como entendi e como refleti sobre determinado tema que circula a obra.

Agora, sobre o anime mesmo: Angel, é um anime realmente muito divertido! Por mais simples que ele pareça, o anime tem um pacing bom, e ao mesmo tempo totalmente desprentencioso, ainda assim, cheio de borogodó. Cada episódio tem uma sacada tão boa dos significados das flores, e a forma como isso se conecta com o episódio é tão orgânico, é tão funcional; chega um momento no anime que você começa a tentar descobrir qual será a flor no final da história, e como ela irá se conectar com o que acabamos de assistir.

A Lun Lun, que é a personagem principal, é tão carismática, mas é um carisma esquisito, pois, eu não consegui identificar nenhum tipo de ferramenta narrativa que impulsionasse o carisma dela, ela simplesmente existe, e o carisma dela está no jeito dela ser; 
é estranho de explicar, mas ela é tão natural, que mesmo que seja um anime dos anos setenta, ou seja, bem datado, ela consegue segurar a narrativa nas costas, sem deixar nada muito brega, o mesmo se aplica para o cachorro e a gatinha que acompanham a protagonista;  acho que a personagem com menos carisma no elenco, é o boy da Lun Lun, que simplesmente é o cara mais sem graça do mundo, a personalidade dele é ser bonito, e só. Nada contra, mas ele não funciona, só serve pra finalizar o ep, e fazer a ponte para a melhor parte do anime, que é quando tem o paralelo entre o significado das flores e a história do episódio.

Angel é um anime que eu recomendo fortemente para qualquer um, porque ele realmente é um anime divertido, pode ser um pouco estranho para quem não assiste anime antigo? Pode! Mas assim, coloca esse preconceito de lado, e assiste isso aqui de coração aberto, te prometo, você não irá se arrepender.

Em suma, esse ano, foi diferente dos outros, tive que adiar a maratona, que, infelizmente foi menor do que a do ano passado - onde eu quase assisti dois animes por dia ao longo do mês - contudo, estou satisfeito. Olha, não sei se poderia ter feito mais, se poderia ter escrito mais, ou escolhido outras obras, porém, no fim do dia o que importa é que Agosto se encerra e eu concluo que estamos mais próximos do fim do ano, e por tabela, mais próximos da próxima maratona - e isso me dá um pouco de medo - já fazem 4 anos que faço isso e tenho que admitir, está sendo incrível.

Não sei quando irei botar um fim em tudo isso, não gosto de trabalhar em coisas infinitas, logo, talvez essa pode ser a última vez que nos veremos em Agosto - ou em um mês que não seja Maio - de qualquer forma, estou orgulhoso de mim, e do trabalho que fiz aqui, alguns dos textos que escrevi neste blog vão permear minha na memória para sempre.

Concluo esse texto e a maratona desse ano, agradecendo à você que me acompanhou até aqui, e espero que possamos nos ver novamente. 

Obrigado!

- Gabriel A. Reiss 



domingo, 22 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 12

 11. Onegai My Melodi 

Um ótimo exercício de observação é encontrar as soluções feitas nos personagens da SANRIO. Compreender que determinado objeto tem determinado formato por ele funcionar melhor para ser animado, ou apenas por chamar atenção, identificar quais são as formas mais usadas para traduzir certos maneirismos dos personagens, etc.

Eu como: character designer, e animador 2D formado, acredito que os designs da SANRIO - Principalmente os da era 2000 - tem signos visuais que traduzem de forma excepcional a alma do personagem. Coisa que, hoje em dia, convenhamos, se perdeu com a enorme quantidade de soluções funcionais, porém que são tão repetidas em diversas obras diferentes, que se tornaram "ocas" com o uso recorrente das mesmas; Um gurí que tem um monitor ou televisão no lugar da cabeça, o uniforme de marinheiro usada por garotas escolares japonesas, os olhos estupidamente gigantescos, e a lista só vai crescendo com o passar do tempo. São tantos exemplos de coisas que se tornaram genéricas ou que perderam sua funcionabilidade, que Onegai My Melodi, utiliza em seu visual de maneira satsfatória, que me vejo assustado ao identificar todos esses tropos visuais.

A história, o visual, a vibe dele em si, tudo isso que compõe o fulcro da obra, me lembrou bastante o divertidísimo filme em live action: Make The Last Wish, diga-se de passagem: isso não foi algo que me pegou logo de cara - Não, não - pelo contrário, só pude fazer essa ponte entre o anime e o filme, após assistir o anime; essa forma que ambos tem de adaptar a questão do imaterial, do sonho, do incompreensivel, aliás, como os dois se passam durante os anos 2000, a estética bem definida e cheia de personalidade das obras, é charme por cima de charme; Contudo, Make The Last Wish é um filme mais adulto, e Onegai My Melodi é uma animação totalmente infantil, mas, caso você queira uma experiência com as duas obras, recomendo assistir uns dois episódios desse anime, e em sequencia, assistir Make The Last Wish, garanto para você, que irá ser uma sessão de cinema que você nunca esquecerá. 

Aliás, tangenciei legal o tema - o anime é bom, o anime é muito bom! Ele é uma das melhores surpresas que tive fazendo essa maratona, a My Melodi - que eu só conhecia de nome, praticamente - é tão fofa, e carismática, a voz original dela transmite muito bem essa fofurice pujante que tem, e a Kuromi é a desgraçada mais cheia de graça que já vi em uma obra audiovisual, ela é tão falsa, tão debochada, ela é a personagem mais humana de um anime onde 60% do elenco é humano; a Kuromi, provavelmente deve ter uma genética, dna, algo do tipo que seja de uma Succubus, entende? - Nem que seja uma prima de 3° grau que é uma - porque ela tem esse lado hiper sedutor e persuarsivo, que dá tanta raiva, e encantador por um lado, além do mais, ela trata mal o capanga dela - tipo, maltrata mesmo! e sempre, ele volta para ela rastejando, e particularmente, acho isso muito engraçado, pois é uma coelinha de 50 cm, que tem todo esse traquejo e malemolência cheia de perversidade, que é muito fascinante. Realmente fico admirado em como escreveram ela.

É importante pontuar que: a Hello Kitty aparece, mas ela aparece nos eyecatches do anime, e talvez seja o meu humor bem quebrado, porém é hilário ver ela assistindo uma tv que está exibindo o anime; pense comigo, se realmente o que estiver acontecendo, estiver acontecendo. Caraca, a Hello Kitty é a amiga mais psicopata de todas! Porque tem episódios que ocorre algo que pode colocar a vida de crianças e por tabela a vida das amigas da Hello em perigo, mas mesmo assim - pelo entretenimento - Kitty continua a assistir, por que? Bem, quem sabe ela seja uma sado masoquista que gosta de ver suas amigas sofrendo, se for isso mesmo, nunca iremos saber, pois, só vemos a personagem observando, de forma fria, por ela não ter uma boca, assiste tudo aquilo que está acontecendo de forma silenciosa, apenas aprecia a visão como uma voyeur desesperada pela próxima situação que - Eita, esqueci de falar do elenco humano!

Veja bem, quando um parágrafo inteiro dessa resenha é sobre um cenário hipotético sobre uma personagem que apenas aparece por menos de 2 segundos por episódio é escrito antes de chegarmos no núcleo que é o principal desse anime, bem, isso diz muita coisa, sem dizer nada sobre o núcleo humano dessa serie; olha, eu gostei bastante das personagens, contudo elas não são o pico do carisma no quesito garotas de animação 2d - e garotos também - Não me entenda mal, são personagens interessantes de se acompanhar, porém são bem esqueciveis, é tão verdade isso que enquanto escrevo esse texto, já me esqueci do nome de todos os personagens que compõem o elenco humano dessa obra.

Por fim, é um anime divertido, caso tenha alguém para assistir com você, assista, é uma ótima recomendação para animes para assistir acompanhado, é tão leve, bem humorado e desprentencioso que pode ser uma oportunidade para dar um significado para esse produto de casal que você comprou para sua parceira(o) com o tema da My Melodi e da Kuromi. Encerro esse texto com a frase que encerra o maravilhoso Cinderela Baiana: "Qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência."

sexta-feira, 13 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 11

 10.2 Momotaro: Sacred Sailors / Momotaro: Divine Sea Warriors 

Prólogo:

Durante minhas pesquisas, esbarrei com uns curtas curtíssimos de Momotaro, ainda não conseguir assistir-los até o momento da escrita dessa resenha - Talvez, no futuro, assitirei essas obras - Dito isso, obviamente farei um recorte temático, e falarei apenas de Momotaro Sea Eagles, que já tem uma resenha feita nessa maratona, e o filme protagonista deste texto, Momotaro: Sacred Sailors - também conhecido como Momotaro: Divine Sea Worriors.  

10.2 - Os filmes de Momotaro.

Como escrito no último texto: Momotaro no início da era Showa, foi inserido novamente nos livros didáticos japoneses, se tornando um ícone do patriotismo nipônico, afinal, utilizavam-se de sua história para trazer uma reinterpretação da obra, junto com pequenas alterações, para fazer com que a história fosse mais um combustível para o imperialismo durante períodos de guerra; essa manipulação da obra folclórica foi feita durante a primeira guerra sino-japonesa, durante a guerra Russo-Japonesa (1904-1905) no qual, desenhos onde Momotaro derrotava os Oni - desta vez representados como Russos - foram distribuídos no Japão, além de que, Iwaya Sazanami - quem escreveu e deu o início para este relacionamento entre o patriotismo sádico e o Momotaro - quando estava trabalhando no ministério da educação, escreveu um livro inteiro sobre como utilizar o conto de Momotaro como instrumento educacional - esse livro é de 1915. Saltando na história, chegamos na segunda guerra mundial, onde Momotaro foi usado em animações para lutar contra os Aliados. Sim! Desta vez, Momotaro não iria lutar contra Oni que iriam representar os inimigos daquela época, e sim, iria lutar explicitamente contra representações caricaturais dos Aliados, seres humanos mesmo.

Compreender a história por trás desses filmes é muito encantador e interessante, pois, o diretor dessas obras é uma figura que com certeza vai te intrigar bastante, Mitsuyo Seo, dirigiu tanto Momotaro Sea Eagles quanto Momotaro Sacred Sailors, e pasmem, que figura interessante! Mitsuyo, é um cineasta e animador de esquerda, tendo feito parte até da Liga ploretária de cinema do Japão; um ponto importante de sua vida é que em 1931 ele foi preso por suas atividades, no qual foi preso por vinte e um dias e torturado também. 

Mitsuyo Seo é um pioneiro da animação japonesa, em 1933, ele trabalhou com Kenzo Masaoka no primeiro filme de animação japonesa com som da história o: Chikara to Onna no Yo no Naka, sem falar do curta que dirigiu o: Ari-chan, que foi lançado em 1941, o primeiro curta de animação japonesa a usar câmeras multi-plano. Não consegui achar como e quando exatamente Mitsuyo e sua equipe foram chamados para trabalhar no primeiro filme de Momotaro, esse que por um tempo foi considerado o primeiro filme longa metragem do Japão, mas por conta de ter menos de uma hora, foi desconsiderado, e sua sequência foi canonizada, porque, essa sim, tem mais de uma hora. Aliás, Momotaro: Sea Eagles quase foi o primeiro filme asiático em longa metragem, só perdeu esse mérito por conta de um filme que foi lançado dois anos antes na China, o: Princess Iron Fan (1941).

Fazendo uma rápida análise deste poster de Momotaro: Sea Eagles que anexei na resenha, podemos observar personagens Norte Americanos - como o Popeye e a Betty Boop - sendo atacados por aviões japoneses, uma das marcas registradas das animações de Momotaro é o uso não autorizado desses personagens de animações populares dos Estados Unidos - por mais que na arte é possível ver o Popeye e a Betty Boop, esses personagens não aparecem no filme, o único que aparece nos dois filmes é o Brutos, já o marinheiro caolho, apenas aparece no segundo filme.

O primeiro filme de Momotaro é mais fiel ao conto japonês, contudo, nesse filme, é feito um recorte narrativo, onde do conto é apenas aproveitada a parte da invasão à ilha dos demônios, que na verdade, nem são demônios, são soldados norte americanos, e a ilha é a base naval de Pearl Harbor; não preciso me estender aqui, é auto-explicativo. Momotaro é o único personagem humano no lado do Japão, o resto do elenco da terra do sol nascente é composto por animais, esses que são exatamente aquele que fazem parte do conto original, um cachorro, um faisão e um macaquinho - claro que tem outros animais no filme, mas os que mais tem tempo de tela são esses, aliás, os macaquinhos são os protagonistas da cena mais pesada do filme inteiro - Esse primeiro filme é o mais violento dos dois, pois ele é focado no ataque, diferente do segundo, onde vemos o ataque ocorrer na ultima metade do filme.

Momotaro: Sea Eagles, foi encomendado pelo ministro naval japonês da época, assim como o segundo filme, ambos foram um sucesso, o propósito do filme era retratar o ataque de maneira leve e divertida, afinal, com animais fofinhos matando milhares de soldados americanos, a tensão da situação seria diminuída, fazendo com que não houvesse uma certa hesitação em assistir o curta por parte dos cidadãos japoneses; o filme foi um grande sucesso entre as crianças, afinal, o primeiro curta de Momotaro trazia a comicidade dos curtas Looney Tunes, a fofura dos  personagens antropomórficos e a personagem do Momotaro que era popular na época, por conta dos fatores já explicados ao longo desse texto. Com tanto sucesso, pediram novamente para que Mitsuyo Seo fizesse outro longa sobre Momotaro, e assim surgiu o primeiro longa metragem de animação Japonês.




Momotaro: Sacred Sailors, tem uma roupagem totalmente diferente do primeiro filme, pelo fato de que um dos pedidos feitos pelos produtores do filme ao estúdio, era que esse filme deveria se basear no filme: Fantasia de Walt Disney; Momotaro dessa vez, não seria mais um cartoon com planos simples, e com cenas recheadas de gags - não, não - Momotaro, dessa vez iria ser um filme com uma narrativa complexa, com planos de câmera inventivos, com momentos musicais e cenas com conceitos que contam a história de diversas maneiras diferentes.

O segundo longa de Momotaro, por mais que ele carregue uma mensagem muito datada e errada, ele contém cenas muito interessantes, como a cena onde dentes-de-leão voam pelo ar e isso é utilizado como uma forma de representar as memórias de guerra de um dos personagens do filme, como se aquelas flores fossem como soldados de paraquedas saltando de seus aviões em meio a um ataque. Sacred Sailors, é bem mais tranquilo no quesito: violência, pois aqui, a lavagem cerebral imperialista é feito por meio do pacing da obra, é um filme sobre a valorização do Japão, mostrar como as forças armadas são de extrema importância para o país; e isso faz com que o longa tenha vários momentos músicais, cenas de personagens trabalhando para as forças armadas, falando de como é participar de uma missão feita por ela, etc. Para criar essa imagem idealista dos soldados, e também para que ao chegarmos no último ato do filme, os ataques cheios de crueldade dos japoneses sejam amenizados, algo parecido com aquela técnica narrativa: o Save The Cat.

Tem uma parte no filme lá pro final dele, onde há um momento de exposição - e eles utilizam uma técnica de animação que talvez seja rotoscopia, não tenho certeza - e tem um jogo de silhuetas e sombra que é um primor de qualidade narrativa, é algo que me impressionou de verdade quando assisti o filme; por mais que Mitsuyo não tenha se orgulhado de seus maiores projetos em animação, e sinta vergonha por conta dos temas deles, particularmente, esse segundo filme tem tantos momento interessantes, que tem uma potência cinematográfica tão grande, que por mais que eu discorde completamente dos temas do filme, não consigo não admitir que esse filme tem momentos memoráveis e bem dirigidos.

Olha, dizem por ai que a inspiração base para esse filme não foi o conto original de Momotaro, e sim o conto de Viagem ao Oeste, o filme tem paralelos com esse conto, principalmente pelo fator ir até determinado local para tomar algo de determinado vilão, e também pelo fator de que os macaquinhos, aqui, tem um tempo de tela muito maior, até maior do que o tempo de tela do Momotaro em pessoa. Uma coisa interessante, é que sempre em debates e conversas sobre esse filme, o assunto: Osamu Tezuka se inspirou em Sacred Sailors surge de repente, e isso é um fato, realmente Osamu Tezuka se inspirou nesse filme, assim como outros artistas que assistiram o filme se sentiram uma forte admiração pelo trabalho de propaganda, a questão é que no filme biográfico animado de Tezuka o: The Tale of Osamu Tezuka: I'm Son-Goku Film, um filme maravilhoso dirigido pelo excepcional RINTARO, o pequeno Tezuka é tocado por um filme que assiste quando criança, que é um filme sobre a Viagem ao Oeste, no filme biográfico, o filme sobre o Macaco rei é retratado como um filme clássico em preto e branco e que foi feito na China - uma parte de mim quer muito acreditar que na real esse filme retratado no filme do Tezuka, simplesmente é uma metáfora ao Sacred Sailors, e que eles trocaram o filme real por um filme metafórico para evitar questões envolvendo o contexto do filme. Essa teoria faz sentido? Na minha cabeça faz, mas acho que isso é só um cenário hipotético que criei para justificar alguma questão não respondida.

O filme durante a ocupação Norte americana no Japão, foi destruído, afinal o país do sol nascente estava passando por um processo forte de desmilitarização, então qualquer material que poderia remeter as tendências imperialistas devia ser retirado ou destruído; pensava-se que o filme iria se perder de vez com o tempo que nem o que ocorreu com o primeiro longa de animação da história o: El Apóstol. - E com a primeira animação Brasileira da história: O Kaiser - mas em 1983 num depósito da produtora do filme foi encontrado um negativo do filme, que foi remasterizado e teve um relançamento via VHS em 1984.

Sacred Sailors hoje em dia atingiu um status cult, e ele é muito aclamado por críticos de animação em todo o mundo, não por conta de seus temas, mas sim, por conta de suas técnicas de narrativa avançadas, animação muito bem trabalhada - porém, diga-se de passagem, não polida - e cenários extremamente bem desenhados cheio de detalhes e movimento. Pra mim esse filme técnicamente é excepcional, uma pena ele ser recheado de uma história com tanto ódio e patriotismo sádico, que fez com que seu próprio autor passa-se os últimos dias de sua vida lamentando ter participado de um projeto como esses, mesmo tendo feito um dos trabalhos mais importantes da história da animação.

quinta-feira, 12 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 10

10.1 Momotaro: Sacred Sailors / Momotaro: Divine Sea Warriors 

10.1 - Quem é Momotaro?



Momotaro é uma personagem popular do folclore japonês, sendo breve em minha descrição do mesmo, é um garoto que nasceu de um pêssego, que foi  encontrado num rio por uma idosa lavadeira - importante pontuar que, Momotaro é a junção das palavras: Momo (pêssego em japonês) Tarō (palavra em japonês que significa: 'o filho mais jovem de uma família'). 

Em sua estória, Momotaro sai da casa de seus pais adotivos quando ainda era jovem, com o propósito louvável de lutar contra os Oni - demônios, ogros e monstros da cultura japonesa - que estavam saqueando suas terras, por isso o seu destino principal é uma ilha dos Oni, onde - obivamente - eram onde os Oni ficavam; durante a caminhada, Momotaro conhece parceiros dessa sua jornada: um macaquinho, um cachorro e um pássaro, no qual irão ajudar Momotaro nessa batalha em troca de bolinhos de milho. Chegando na ilha dos Oni, o menino do pêssego e seus amigos derrotam os Oni, saqueam um tesouro da ilha e voltam para casa com o tesouro e um chefe dos demônios, que após a derrota já não era mais uma ameaça.

Momotaro é um conto que surgiu da forma contada e sua versão escrita demorou mais de duzentos anos para ser feita, tudo evidencia que a estória surgiu durante o período Muromachi (1392-1573) e até o período Edo (1603-1867) Onde Momotaro finalmente foi concretizado por publicações literárias no Japão; dito isso, as versões mais antigas da obra, e que temos o conhecimento de sua existência, surgiram durante a era Genroku (1688-1704) - a era Genroku se passa dentro do período Edo - essas versões estão perdidas; A escrita japonesa surgiu no período Yayoi (1000 a.c - 300 d.c), e foi no período Kofun (250 d.c - 538 d.c) onde começaram a adotar os Kanjis na escrita, assim, dando um salto na história da escrita japonesa, foi no período Edo, surgiu os Kusazōshi, que é um termo que abrange vários genêros de literatura que são ilustradas e impressas em xilogravura, esse formato de literatura durou até o inicio do período Meiji (1868 - 1912); e foram nos Kusazōshi, que Momotaro foi disseminado na cultura japonesa. 

Em suma, como já escrevi nesse texto, os textos mais antigos da era Genroku estão perdidos, todavia, existe uma versão de Momotaro que foi feita durante a era Kyōhō (1716 - 1736) que é como um livro de bolso feito em 1723, que se tornou a cópia mais antiga existente de Momotaro, porém, antes dessa descoberta, a versão mais antiga era a versão de 1777 feita durante a era An'ei (1772 - 1781), que é uma reimpressão da obra que foi basilar para a popularidade da história na cultura nipônica. O conto do menino nascido do pêssego, foi publicado em vários formatos, tanto em livros mais direcionados ao público adulto, quanto publicações direcionados ao público infantil, como o já mencionado: Kusazōshi.

Como Momotaro é uma obra que foi escrita, contada e interpretada em diferentes eras da história japonesa, é quase que inevitável a aparição de diferenças  em diversas versões da obra, a ordem de aparição dos animais que iriam fazer parte da equipe de Momotaro é algo que foi modificado em algumas versões, por exemplo, sem falar que existem versões onde Momotaro não nasce de um pêssego, e sim, nasce de uma mulher que come um pêssego, fica anos mais nova, e assim, dá a luz ao jovem guerreiro. 

É fulcral mencionar que, durante o período Meiji (1868 - 1912) 
Iwaya Sazanami escreveu diversos contos sobre o Momotaro, aliás seus contos sobre o Momotaro foram incluidos aos livros didáticos das escolas primárias japonesas em 1887 - Sazanami em 1906 iria ingressar no ministério da educação japonês; essa integração dos contos de Momotaro catapultaram ainda mais a popularidade da personagem com as crianças, sem falar que os contos de  Iwaya Sazanami públicadas em coletâneas de contos populares do Japão, foram de um grande sucesso comerical. Em 1894, Sazanami escreveu um conto onde Momotaro era retratado como um general militar do Japão, como sempre, a personagem luta contra os Oni, entretanto, a partir de 1895 pelo fato de estar 
estava ocorrendo a Primeira guerra Sino-japonesa (1894-1895) os demônios e ogros deste conto tomaram um novo papel semiótico na obra, eles eram como uma representação da disnastia Qing da China, estimulando o discurso de  uma superioridade japonesa durante essa primeira guerra.

Essas adaptações do conto para sustentar os discursos imperialistas japoneses com o passar das eras nipônicas, se tornaram cada vez mais comuns; na era Taishō (1912 - 1926) , a leitura feita do objetivo narrativo dos Oni na estória poderia ser associada ao fato deles serem estrangeiros, sim, eles não eram punidos por saquearem as terras de Momotaro, agora, eles eram punidos por serem... estranhos? Bem, essa releitura dos papéis dos Oni na obra foram tão abruptas e estranhas, que pessoas associadas ao liberalismo japonês protestaram contra essa adaptação da obra, alegando que isso poderia influenciar as crianças a associarem os Oni aos imigrantes que estavam chegando no Japão na época, o que não adiantou em muita coisa, pois na próxima era, com o imperador Hirohito assumindo a terra do sol nascente, as coisas - definitivamente - pioraram, e pioraram muito! 

No início era Showa (1929-1989), o conto de Momotaro se tornou a história de um sádico imperialista, roubando os tesouros dos Oni da ilha deles, sem motivo ou razão aparente, Momotaro só tinha o desejo por dominar os espaços, não de se vingar pela opressão sofrida; foi lendo a adaptação de Momotaro dessa época, que tive a maior reflexão sobre o conto de Momotaro, ele havia se tornado uma forma de impedir a libertação da educação japonesa, construindo pensamentos imperialistas em cima da futura sociedade nipônica; "Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser o opressor" (FREIRE, 2003, p. 47, Pedagogia do Oprimido) 

Momotaro, foi a personagem usada para aprisionar a educação japonesa, e por tabela - mesmo que por ironia do destino - a personagem que não existe, que no início sua primeira história ela era oprimida pelos vilões da história, se tornou uma personagem opressora, atendendo a agenda imperialista japonesa da época, fomentando esse sentimento totalmente equivocado de uma superioridade nipônica.

E é aqui! Finalmente, chegamos no primeiro curta de Momotaro, mas isso fica para o próximo texto, sobre esses filmes; só esse texto introdutório já foi maior do que a grande maioria das resenhas deste blog, melhor separar tudo pra ficar mais organizadinho, né?

terça-feira, 10 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 9

 9. Momotaro: Sea Eagles 

Esse filme é estranho; antes de qualquer coisa, irei me aprofundar na história e curiosidades de produção desse filme na minha resenha de Momotaro: Sacred Sailors que além de ser o primeiro longa metragem de animação japonês, também é a sequencia do filme que irei dissertar nesse texto. 

A minha questão com esse filme é que eu assisti ele depois de assistir a sua continuação, sim, eu inverti a ordem dos filmes; acho que não perdi muita coisa, entretanto, por conta dessa confusão, existem alguns pontos em ambas as obras, que tive que reformular minha reflexão, por exemplo: o pacing do filme, em Momotaro: Sacred Sailors, as cenas iniciais do filme tem um papel narrativo muito interessante, onde o filme começa a preparar o terreno para no futuro do longa, ele utilizar essas cenas para intensificar as cenas mais tensas, com tiros e violência, diferente do curta: Momotaro: Sea Eagles, que é só o puro suco do imperialismo e crueldade.

Na real, esse filme, é como um curta, tem o roteiro de um curta, tem gags de um curta, mas não tem a duração de um curta, ele tem vários elementos de curtas tipo Merrie Melodies - que tem por volta de cinco, sete minutos - só que com momentos onde toda as gags e momentos engraçados param de repente, para simplesmente implacar um discurso que envelheceu super mal, de como o Japão é superior aos outros países, etc.

E isso é  estranho, muito estranho, é como assistir os curtas: Sweet Sioux e Jungle Jitters do Looney Tunes, por mais que eu tenha crescido e assistido muitas narrativas dessa formatação, com curtas que fazem zombam de maneira criminosa com determinadas culturas, posso afirmar que assistir trinta minutos só disso, principalmente sabendo dos crimes de guerra do Japão na II guerra mundial, foi bem estranho.

Esse curta tem como tema central o ataque de Pearl Harbor, um ataque surpresa feito pelos Japoneses contra a base naval dos EUA, isso foi um marco muito triste na história, e aqui isso é tratado de maneira cômica, sério, fazia tempos que eu não me senti desconfortável com uma cena de um anime; a cena dos macaquinhos saindo do avião para explodir os aviões dos EUA, e logo após explodindo toda a base no processo, realmente me deixou bem chocado, e o pior de tudo, eles tem uma cena no final que todos comemoram o que havia acabado de ocorrer - 
Esse curta é como se fizessem um filme exaltando o massacre de nanquim, se utilizando de personagens animais atropomórfizados para fazer o papel daqueles que cometeram os maiores crimes de guerra da história da humanidade.

Bem, é um curta que envelheceu mal, e que só recomendo se a pessoa que quer assistir o curta está estudando história da animação; não curto esconder títulos por conta de seus temas, ou determinadas formas de lidar com alguns acontecimentos espinhosos da história da humanidade, mas esse filme aqui conseguiu me fazer entender o porquê de que em alguns lugares da internet tentam ignorar a existência desse curta que antecede Momotaro: Sacred Sailors.

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 8

8. O Paraíso de Hello Kitty

Quando vou até lojas de Dvd, sempre acabo esbarrando com cópias usadas dos Dvd de O Paraíso de Hello Kitty - e sempre, acabo ignorando esses dvd -  e hoje, após dar uma chance para esse anime, eu afirmei para mim mesmo, que na próxima vez que eu me deparar com um dvd de O Paraíso de Hello Kitty, eu iria comprar, pois, gostei desses cinco episódios que vi, o problema é que dois segundos após afirmar isto, no meio de uma pesquisa que fiz para este texto que você está lendo, iria descobrir que esses dvd, não estão com os episódios do anime, e sim, com os episódios de O Teatrinho de Hello Kitty, que não me dei o trabalho de assistir um episódio por completo, porque sinceramente, uma serie de Hello Kitty animada aos padrões de animações dos anos 90 norte americanos a lá sábado ou domingo de manhã? Tô fora! Isso é demais até pra mim - a título de curiosidade: eu disse o mesmo quando pensei pela primeira vez em assistir as animações feitas pela SANRIO, e veja onde estou.

O anime é mal animado, tem muitos momentos que parecem que foram animados no Microsoft Power Point, como cenas onde os personagens estão em plano americano enquanto andam - gente era só mexer no bezier, acertar um pouco a aceleração e espaçamento do movimento, ficou uma animação tão constante e plástica, que deixa ainda mais claro a falta de empolgação que os animadores tinham quando animaram determinadas cenas. - imagino que os pontos fortes na animação sejam os momentos em full com movimentos mais complexos, como um: walk cycle; caminhadas sempre serão complicadas de animar, por mais que sejam elementos basilares da animação em sua maioria, não importa o quão simples determinado character design seja, o walk cycle sempre vai causar dores de cabeça, e por mais que aqui o looping seja bem simples e nada dinâmico, eu gostei das soluções em determinados momentos da animação; um exemplo é no episódio 5 onde os personagens estão fazendo uma caminhada, e é possível ver planos mais abertos onde a animação - mesmo bem limitada - consegue ainda chamar atenção e ser bem funcional - é  como um anime do Akira Tsuburaya, só que do nada tem um momentinho na animação que fica minimamente aceitável.

É um anime educativo, a cada episódio a Hello Kitty descobre uma coisa nova, ou aprende algo que não sabia, como: lavar as mãos, não falar com estranhos, etc. a questão, é que a animação trata esses assuntos de uma forma tão leve, de forma com que os próprios "perigos" e conflitos que a personagem passa parecem coisas que não são tão graves assim; obivamente, não é o objetivo da série retratar os problemas cotidianos de uma criança de quatro ou cinco anos de maneira com que hipertrofie a moral da história, e pelo choque causado, faça com que as crianças espectadoras evitem determinada ação por conta do baque que teve assistindo um anime que passou as oito da manhã no cartoon network, o que me incomoda é que existem casos que determinados temas poderiam ter sido explorados de outra maneira, ou nem apresentados na trama do anime, sabe? O Episódio das protagonistas sendo raptadas por uma velinha é a coisa mais sem pé nem cabeça que já assisti relacionada ao tema, talvez até para o público-alvo, esse episódio tenha sido meio esquisito.

O meu maior elogio para o anime, é o seu pacing, que é tão acolhedor, a mesma sensação que tive assistindo Meu Amigo Totoro, tive assistindo esse anime aqui, aliás ele me lembra bastante da sensação de assistir algo de manhã, com o corbertor enrrolado pelo corpo, em cima do sofá, a casa inteira silenciosa, e eu alí, apenas assistindo, no meu silêncio, curtindo a experiência; falta um pouco disso nos desenhos atuais, esse sentimento esquisito de tranquilidade e paz - e é assustador afirmar que, apenas por conta do pacing desse anime, que ele se salvou para mim, com certeza irei assistir mais episódios dele, até descobrir tudo o que ele tem para oferecer, mesmo com a animação mal feita e os roteiros mal pensados. 

 



domingo, 8 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 7

 

7. Keroppi and Friends

Basicamente, assisti a 1 ep do anime do sapinho Keroppi, dentro da lore de Hello Kitty - na qual, nunca me aprofundei - o único personagem que me aguçava interesse, era o sapinho Keroppi; sempre me perguntei: "por que que quase todo elenco de Hello Kitty faz sucesso no Brasil, e o Keroppi, não?" Sério! isso é algo que eu realmente me questiono, pois se tem uma coisa que esse sapinho tem, é carisma. O design do Keroppi, particularmente, é um dos designs mais bem bonitos dos personagens que compõe o elenco da turminha da Hello Kitty, é uma pena não termos material dele antes de 2010, traduzidos oficialmente para o pt br - aliás, até traduções de fã são complicadas de achar, só achei dois episódios traduzidos pro pt br até agora.

O que salva é o fato de que nos EUA, Keroppi foi dubaldo em inglês, e por um lado isso é muito bom, porque - pelo menos no meu caso - consigo assistir alguns episódios, e por outro lado isso é ruim pra caramba, pois a dublagem dos Estados Unidos é muito ruim, é tão exagerada e sem vida, que, tô pensando em deixar de assistir a versão dos EUA para assistir apenas as japonesas - ai, a pica vai ser tentar adivinhar o que tá acontecendo no desenho, né? Porque eu não entendo patacas de Japonês.

Bem, não irei me aprofundar em fatos curiosos e legais nessa resenha, pois futuramente irei assistir e resenhar outros trabalhos da SANRIO, e ai, nessas outras oportunidades, irei me aprofundar na pesquisa, etc. Aproveito esse texto para demonstrar o meu interesse em descobrir não só sobre o Keroppi, mas sim, descobrir num geral todas as obras assinadas pela SANRIO, afinal, vejo tantos materiais da SANRIO em tantos lugares diferentes, que é impossível não acabar criando uma certa curiosidade em descobrir se os trabalhos feitos por ela são bons mesmo - claro, irei tentar fazer um recorte e focar nas versões japonesas das obras, quero fugir ao máximo de cortes e recortes norte americanos.

A minha relação com animes infantis é muito boa, pois comecei a assistir, a partir desses animes, shonens, shoujos e outros genêros, nunca me chamaram atenção, só iria criar uma vontade de descobrir mais sobre o mundo do anime, quando comecei a ler revistas de anime, mesmo. Pois, se não fosse elas me forçando a ler páginas e mais páginas de texto sobre um Gundam novo ou coisa do tipo, nunca teria parado para assistir Macross, por exemplo - O último anime infantil que vi, foi um VHSRip de Tama e seus amigos, achei um porre diga-se de passagem.

Concluindo, já estou calejado, pode vir, que eu estou aberto para ver o que um desenho feito para crianças de quatro anos pode me oferecer de entretenimento, e pasmem, estou impressionado com esse primeiro episódio; simplesmente é a história de um urso que tem o seu umbigo - sim, o seu umbigo! - roubado por anjos que fazem com que chova na terra, e agora cabe ao Keroppi e seus amigos, ir no céu, para pegar o umbigo roubado, devolver para o urso, para que assim ele possa participar de um campeonato de batucar na barriga e vencer; gente, eu tô perplexo, esperava qualquer coisa, menos isso.

Diante da loucura oferecida pelo anime, me esbaldei, pois, ri bastante, foi uma real boa diversão, não esperava que iria ter um momento tão bom com esse sapinho. Como havia dito, ele já tinha me cativado, o design dele é muito bom, isso fez com que a minha experiência, se tornasse ainda mais divertida mesmo, definitivamente, não é a oitava maravilha do mundo, mas foi um primeiro episódio que me pegou desprevinido, realmente eu não esperava por nada do tipo; animes infantis tem dessas onde de repente eles trabalham com um episódio com uma proposta muito absurda, mas geralmente isso não ocorre no primeiro episódio, sinto que o pessoal começou chutando a armação da barraca - e, sinceramente, isso não foi um problema - bem, vi os outros episódios seguintes do anime bem por cima, então não sei se tem ainda mais loucura me aguardando, ou se só foi nesse primeiro episódio que houve esta aventura improvável, de qualquer forma, já estou vacinado, só vem Keroppi, pode me surpreender novamente, que irei continuar firme e forte, assistindo e criticando.


sábado, 7 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 6

 

6. Grappler Baki - O Último Combate 


Spoiler: Não é o último combate de Baki. Esse anime ficou famosinho na internet, imagino que pelo fato dele ter se tornado mais popular aqui no Brasil mesmo, tanto o mangá quanto os outros animes além dessa adaptação. Conheci Baki procurando por mangás que são muito extensos, e acabei tropeçando nessa obra de Keisuke Itagaki, até então, o mangá mais longo era Hajime no Ippo,mas parece que Baki já até passou o mangá de boxe.

Olha, vou ser sincero, não achei muita coisa bacana pra escrever na resenha, nem Wikipédia esse Ova tem, a grande parte dos materiais que achei eram se referindo a ele como "coisa importante que você tem que assistir para entender uma parte de Baki"; não tenho o menor interesse por enquanto assistir ou ler mais material de Baki, particularmente eu gosto mais de acompanhar de forma com que eu sempre esteja sabendo de tudo que ocorre, debatendo sobre determinados assuntos da obra mas sem me envolver muito, porque tem outros animes e mangás mais interessantes do que esse para assistir.

Claro, isso não quer dizer necessariamente que eu não goste de Baki, pelo contrário, adoro a loucura dele - me divirto tanto lendo e escutando os feitos impossíveis dos personagens; é como se em todo momento na obra os personagens parecem estar tentando mostrar o quão incríveis eles são.  É como se eu estivesse assistindo um campeonato de fisiculturismo, onde os competidores posam, e a cada pose diferente eles se mostram ainda mais definidos e, de verdade, é como se a cada frame do anime eu estivesse tomando uma dose de testosterona, cara, essa obra exala testo! 

E eu falo isso da forma boa; é tanta misogenia, machismo, situações sem sentido e muito exageradas, que se alguém me falasse que tem homem que fica de pênis ereto assistindo isso aqui, com certeza acreditaria fielmente na pessoa, pois, isso aqui é a forma mais pura e intensa já retratada de uma extaltação à masculinidade. O tipo de coisa que acontece aqui é o tipo de coisa que eu gostaria de fazer na vida real, com amigos, para a gente rir depois do quão absurdo é - tá essa frase ficou estranha.

Sabe, o OVA tem tantos conceitos idiotas, como, um bunker de lutas ilegais que milhares de pessoas vão para lá para assistir, e, existe uma confiança, porque um dos personagens diz que nenhum daqueles trezentos mil figurantes poderia contar para alguém de fora sobre as lutas ilegais; gente, isso é tão idiota, mas tão funcional! As técnicas exageradas, os ferimentos mortais que por algum motivo as pessoas que sofrem eles conseguem sobreviver passando por uma rápida cirurgia vinte minutos após o ocorrido e os comentários da plateia, etc, tudo é tão besta, mas tão divertido.

Eu me diverti assistindo esse OVA! Fazia tempos que eu não me divertia tanto com uma luta aleatória de anime. Não ligo para os personagens, não ligo para a lore, só quero ver o couro comendo, e me divirto com isso; diferente de Ashita no Joe no qual, cada luta tinha tanta história realmente interessante colocada em cima da ação, que eu realmente me importava com tudo ocorrendo no momento, e a luta se intensificava uns quinhetos por cento, e sério, por mais que Baki não tenha me pegado de forma parecida, eu me diveriti do mesmo jeito, e é isso que importa, que anime bacana! 


sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 5

 

5. They Were Eleven!

Eu adoro coincidências! E quando pego pra maratonar animes antigos sempre me esbarro com felizes coincidências, como: Ah, na dublagem em pt br desse anime quem faz a voz de tal personagem é um dublador que você curte, ou, o mesmo produtor de tal anime famosissímo produziu esse anime desconhecido também, ou, o filho daquele mano que você é fã trabalhou nesse filme, e a lista vai, acho que a mais recente, - além da coincidência que irei usar como ponto de partida para crítica desse longa-metragem - é descobrir que existem sites que creditam a direção do RINTARO no filme de Super Grand Prix, diga-se de passagem, RINTARO é um dos meus diretores favoritos de anime, foi ele que dirigiu Metropolis 2001, que é o meu filme de anime favorito da vida. Pois bem, descobrir um fato curioso e novo sobre um anime é sempre bacana, e foi isso que ocorreu comigo quando fui pesquisar sobre a ficha técnica de They Were Eleven!

O filme que é baseado em mais um mangá que saiu do Year 24 Group, escrito e desenhado por Magio Hagio, conta a história de dez participantes de um exame que é tipo um enem do espaço, a diferença é que nesse enem os participantes a qualquer momento podem morrer, já que no exame eles vão ter que passar 53 dias dentro de uma nave abandonada navegando pelo espaço; Fato importante: tem um botão vermelho no centro da nave que apertando ele, o exame é cancelado e todos perdem a chance de passar na prova, esse botão é um botão de desistência, com um trupulante apertando, todo mundo é tirado da nave junto. O conflito da obra é que eles contam o número de tripulantes dentro da nave, e percebem que tem uma pessoa a mais entre os participantes, um décimo primeiro tripulante, e com isso, todo mundo entra em alerta ao saber que existe um penetra, um infiltrado entre eles, logo, a dinâmica do filme se torna um suspense de mistério, onde tá todo mundo desconfiando de todo mundo, afinal qualquer um pode ser o  décimo primeiro tripulante.

Eu assisti esse filme novamente no escuro, então comecei minhas pesquisas em relação ao filme após a minha primeira vez assistindo ele - e caramba! Como eu descobri coisa sobre ele; lá na terra do sol nascente, They Were Eleven! é bem famoso tendo várias adaptações para várias midías diferentes como um filme em live action, rádio-novela e uma peça teatral; Todavia, o que mais me impressionou ao descobrir sobre They Were Eleven! é o seu diretor o incrível Satoshi Dezaki. Satoshi, ele é o irmão mais velho de Osamu Dezaki - Osamu sendo um dos diretores mais influentes na história do anime, aliás, também tenho grande admiração pelo Osamu Dezaki ´- conheci o trabalho do Satoshi Dezaki assistindo o maravilhoso filme: Undersea Super Train: Marine Express - Fato interessante: Por muito tempo na Wikipédia do filme, estava escrito que o diretor do longa foi o Osamu Dezaki e não o Satoshi Dezaki, sim, eles confundiram os irmãos, mas isso já foi corrigido - Marine express é uma grande celebração ao trabalho de Osamu Tezuka, reúnindo grande parte de seu star system para formar um elenco forte de personagens que irão interpretar uma história de mistério e suspense, com direito até assassinatos misteriosos, nesse filme Dezaki mostra total controle de sua direção trabalhando muito bem com a tensão que ronda o filme inteiro, afinal, na estória do filme, há um assassino misterioso que está matando as pessoas dentro do trem submarino  chamado Marine Express, e cabe a um detetive tentar solucionar esse mistério e prender o assassino, o problema é que dentro do trem, todos, são suspeitos - espera, será que já vi isso em algum lugar!?

They Were Eleven! e Undersea Super Train: Marine Express os dois tem maneirismos diferentes e formas de contar história que são até um pouco parecidas, mas a qualidade da direção do Satoshi Dezaki é tão excepcional em ambas as obras que particularente, consegui me divertir vendo ambos os filmes, individualmente, sabe, mesmo sabendo que o mesmo diretor trabalhou nos dois filmes, os momentos que passei com eles foram tão bons que sinceramente não vejo sentido em dizer que um é inferior ao outro por conta de algo repetido, ou alguma fórmula que ele usou em ambos. Aliás, outra conexão com Osamu Tezuka,  esse filme me lembrou um os filmes especiais de Phoenix no caso, é um dos dois OVA que são a sequência de Phoenix Karma Chapter: Phoenix Space Chapter, Achei que esse terceiro filme da triologia de Phoenix tem coisas que lembram muito o filme desta resenha, isso deve ser por conta que ambos são filmes de suspense e ficção científica no espaço, a principal diferença é que um termina de uma forma bem mais maluca do que o outro. 

Agora, vou falar sobre o Frol - ou, a Frol - como dito no anime, Frol é como um anjo que não tem genêro, ela tem traços femininos, mas ela não é uma garota, é como se fosse uma personagem não binária até um certo momento do anime, onde ele toma uma decisão que muda tudo, enfim, assista para saber; acho importante pontuar isso aqui, pois gostei bastante dessa representação, eu queria bater um papo com alguém que seja genêro flúido ou não binário, para ver se a representação do Frol foi respeitosa mesmo, de qualquer forma, é mais uma personagem a frente de seu tempo quebrando os tabus, numa época onde isso era muito incomum na mídia.

Por fim, They Were Eleven! é tão divertido! É tão bacana de se acompanhar, é aquele tipo de material que você pega para assistir e não consegue sair da cadeira porque ficou gruduado alí, preso a obra, aflito do que pode acontecer nos próximos segundos, se envolvendo com determinados personagens, e criando teorias de quem pode ser aquele ponto pivotal que está fazendo com que tudo gire em 180º, que filme divertido, recomendo bastante se você tá procurando uma boa diversão para um fim de tarde; Ah, só passa longe da dublagem em inglês, que essa adaptação não tá com nada, fora isso, boa diversão.

quinta-feira, 5 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 4

 

4. Tonari no Totoro

Beleza, mas quem é essa menina no pôster de Meu amigo Totoro? Cara eu adoro o Totoro, o design dele é tão perfeito, é tão funcional. Não tem como, né pessoal? É o icone máximo da Ghibli; acho que esse é um dos filmes do estúdio que mais sei curiosidades aleatórias sobre, curiosidades essas que eu sabia antes até mesmo de assistir o filme. O carinho improvável que cultivo por esse filme surgiu de maneira tão repentina, imagino que isso só é mais uma prova de que o filme de Hayao Miyazaki conseguiu cumprir seu principal obejtivo.


Veja um trecho retirado de um documento da pré produção do longa Meu Amigo Totoro, que contém detalhes da história e expectativas do diretor em relação ao filme: "Meu Amigo Totoro pretende ser um filme feliz e comovente, que permite ao público voltar para casa com uma sensação agradável e sentimentos alegres." Isso me faz refletir ainda mais como o filme conseguiu alcançar  o que estava escrito nas ideias iniciais do projeto, e pasmém, que objetivo subjetivo!

Imagina se propor a trabalhar em algo que o principal seja trazer aos espectadores um sentimento tão particular ao final da obra, convenhamos, não é qualquer um que faz isso; outra coisa interessante de se pontuar, é o fato deste filme ter sido lançado no mesmo dia de lançamento de - pasmém, novamente - Túmulo dos Vagalumes, do incrível Isao Takahata; Aliás, para promover os filmes, o estúdio Ghibli permitiu dobradinhas com os filmes - no caso, uma sessão onde exibiam os dois filmes de uma vez só - um fato interessante, é que em algumas sessões que começavam com Totoro e encerravam com Vagalumes, o público saía antes do término de Túmulo de Vagalumes, agora, em sessões que começavam com Vagalumes e encerravam com Totoro, o público assistia a sessão até o final; esse efeito ocorria porque o filme de Isao Takahata tratava temas bem tensos, tinha uma carga dramática gigantesca e principalmente terminava com uma conclusão que - definitivamente - não era satisfatória, por mais que eu considere a obra de Takahata como a melhor de todo o estúdio Ghibli quiçá a melhor já feita na história da animação japonesa - quer dizer, desconsiderando Metrópolis 2001, por um momento, claro - tenho que admitir que o final de Túmulo dos Vagalumes carrega tanta tristeza e aflição que particularmente este é um dos motivos que me impede de re-assistir o longa de vez em quando, sabe? Nós encerramos a experiência de Vagalumes com tanta melancolia que sinceramente entendo a galera que assistiu Vagalumes pela metade nas sessões que começavam com Totoro, e entendo mais ainda quem assistiu Totoro até o final nas sessões que se iniciaram com Vagalumes - afinal, o objetivo de Totoro é proporcionar  essa experiência de reflexão e frescor ao público, fazendo com que eles saiam da sessão tomados por emoções de alegria e felicidade. - logo, Meu Amigo Totoro age como um contra-ponto do filme que se passa na segunda  guerra, uma forma de revisitar momentos de quando eramos mais novos de uma ótica carregada de idealismos nostálgicos, diferente do filme de Takahata que trazia melancolia e tristeza as lembranças de um tempo passado.

Nostalgia e infância, são dois temas basilares de Meu Amigo Totoro, Miyazaki adora colocar auto referências em suas obras, além de motifs que de vez em quando reaparecem para enfatizar suas mensagens, por exemplo, o uso de crianças; em Viagem de Chihiro me lembro de ter visto em algum local que ele havia dito que a principal inspiração para o filme foi quando foi para uma viagem de férias com sua familía e amigos, para comemorar o aniversário de 10 anos de uma filha de um produtor cujo o nome não é importante, ele pensou em fazer um filme para jovens garotas, mas algo que fosse diferente do tradicional do que estava sendo produzido na época em relação a filmes para garotas; essa gênese de Chihiro é importante para compreender os trabalhos do MIyazaki, pois desde seus primeiros trabalhos ele sempre esteve questionando as "acomodações" que a industria deixava-se acontecer, - inclusive, isso é algo que permeou por muito tempo em sua carreira, afinal Viagem de Chihiro é um filme que foi feito pós ao seu primeiro anuncio de aposentadoria -  dado que assim haveria uma facilitação para a produção e venda de cultura de massa - inclusive Isao Takahata em algumas entrevistas também faz reflexões parecidas com as do Miyazaki.

Em Totoro, ao final do documento de elaboração do projeto, o diretor ressalta a importância de uma música tema, que fosse fácil de ser cantada pelo público infantil, ele diz: "[...] Músicas-tema de animação são frequentemente usadas para promover ídolos pop. Isso pode estar na moda, mas a complexidade de determinadas técnicas usadas pelos cantores e a restrita gama de estilos musicais usados não captura o coração das crianças. O que as crianças desejam são músicas que possam cantar abrindo bem a boca e levantando a voz. Este filme precisa de uma música que possa ser cantada energeticamente por um refrão." - Por isso o refrão do tema de Totoro é tão chiclete, Miyazaki queria algo simples, pois ele sabia exatamente qual público ele queria atingir com essa aventura, e qual sentimento ele queria evocar, ao simplificar a música tema e fazer com que ela seja tão simples que crianças conseguem cantá-la perfeitamente sem a necessidade de técnicas vocais, aproxima os espectadores mais adultos para obra, por exemplo, as mães e pais que levam suas famílias para assistir o filme; para os adultos, Totoro é uma experiência que convida a reflexão dos velhos tempos, e promove sensações que remetem a um passado perdido - o mundo metafórico que o Miyazaki diz que os jovens e adultos tanto anceiam por conseguir acessá-lo, falei um pouco sobre isso na minha review de Super Grand Prix -  já para o público infantil, Totoro é um filme que instiga o pensamento imaginativo e faz com que elas criem interesse em explorar e cultivar a atual natureza que os cerca. 

Por fim, as personagens Satsuki e Mei representam o lado perdido do diretor, elas são a representação de sua infância, claro, elas são tão bem escritas que elas conseguem ultrapassar essas camadas de apenas serem uma representação do Miyazaki, e se tornam além de uma homenagem pessoal aos velhos tempos, como personagens chave para que o próprio público se sintam representados nelas; as cenas delas descobrindo cada local da casa e da vila onde se passa o filme são formas de dinamizar o filme e impulsionar a quailidade narrativa do pacing da obra. Além de que são elas que promovem as maiores reflexões em relação as mensagens que o filme explora.

Existem ainda vários tópicos para se abordar sobre Totoro, por enquanto, pelo fato daqui ser um pequeno registro, não exatamente uma crítica completa, vamos apenas fechar esse texto concluindo, que, Meu Amigo Totoro, é perfeito em seu principal objetivo, e ele só é perfeito por conta de uma direção responsável e bem embazada e construída.  


quarta-feira, 4 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 3

 

3. Kaze To Ki No Uta

Uma horinha de um filminho de duas mariquinhas se pegando... Shut up, and pick my money! - Vi o título e uma screenshot do OVA e falei: "Por que não?" e não me arrependo de ter visto esse filme. 

Kaze to ki no Uta é a história de Gilbert, que é um loirinho femboy, e Serge um projeto de nego doce; brincadeiras a parte, me aprofundei em saber mais sobre as origens desse anime, e descobri que ele é a adaptação dos três primeiros volumes do mangá de mesmo nome, que foi escrito e desenhado por Keiko Takemiya. Ao todo a obra original tem  17 volumes, logo, imagino que perdi uma boa parte da obra optando por apenas assistir o OVA; tanto que ainda estou pensando na possibilidade de ler o mangá por inteiro, afinal, curti o que assisti; além de que quero começar  a me aprofundar nos mangás produzidos pelo Year 24 Group - que é um grupo formado por escritoras e desenhistas de mangá shoujo, que foram responsáveis por criarem obras que se aprofundavam em temas complexos, como gênero, sexualidade, sexo, depressão, etc. Importante ressaltar que elas surgiram nos anos 70, onde todos esses temas eram considerados tabu pela sociedade japonesa. Aliás, a própria Keiko Takemiya fazia parte desse grupo.

Uma coisa que me incomodou foi o fato de que os personagens são desenhados de maneira com que pareçam mais jovens do que realmente são, bem, eu dei uma olhada no mangá, e lá a forma como eles são desenhados dão a entender que são bem mais adultos, sinto que no OVA eles se pareciam mais com crianças do que na obra original; essa questão dos personagens parecerem ter menos de dezoito me incomoda apenas pelas cenas de sexo e estupro que o anime tem, olha, no mangá também tem essas cenas, aliás, o mangá é até mais pesado, tratando de assuntos ainda mais complexos, como incesto e suicídio, por exemplo - Aliás, o mangá de Kaze to ki no Uta foi um pioneiro em trazer esse tipo de complexidade narrativa e temática para os mangás shoujo - Importante pontuar que os visuais do Gilbert e do Serge são muito bem trabalhados no anime; em comparação com os figurantes que fazem parte da escola onde se passa o anime é bem perceptível que Gilbert e Serge são os únicos personagens que tem determinados signos visuais que tradicionalmente são atribuídos a character designs femininos, essa questão de "subversão anti binarista" da obra não é por acaso, um dos charmes dos mangás do Year 24 Group é trazer personagens que contém características que sugerem uma androgenia aos mesmos, afinal em uma boa parte dos mangás que saíram desse grupo, o gênero e a sexualidade são debatidos; um exemplo ótimo disso são algumas mulheres de Oniisama e... que são desenhadas com elementos que remetem a características masculinas, como um olho mais cerrado, por exemplo. 

Pesquisando mais sobre essas questões envolvendo designs e etc. descobri que existe uma influência de A Princesa e o Cavaleiro em meio a tudo isso, o mangá de Osamu Tezuka tem uma protagonista que por conta de um acidente em seu nascimento acaba recebendo um coração masculino em seu corpo feminino, então mesmo que no reino onde se passa a história, Safari - a protagonista de A Princesa e o Cavaleiro - seja considerada uma menina, dentro de si, ela é  um menino, preso num corpo de mulher, confuso, não? Um verdadeiro mangá a frente de seu tempo, que influenciou várias artistas a trabalharem de maneira diferenciada em seus personagens de mangá, afinal Tezuka trabalhou na Safari de maneira que trouxesse tanto quanto elementos masculinos quanto femininos - aliás, existe outro mangá shoujo dele que é bem bacana que há uma personagem que é uma mulher que se veste de homem para conseguir entrar numa escola de música se chama Prelúdio do Arco-iris, recomendo dar uma olhada depois, que é bem bacana e até foi publicado em terras túpiniquins.

Me impressionou bastante a qualidade do anime, pois ele é um filme de 87, e dá de dez a zero em muitos filmes que saíram depois dos anos 90, ele é um show de animação, direção, staging, composição, atuação de voz, ritmo e principalmente fotografia, esse filme, assim como outras obras adaptadas do Year 24 Group - como Rosa de Versalhes - tem uma cinematografia impecável.

Sendo sincero, o motivo que me fez assistir esse anime foi porque ele me lembrou bastante visualmente um filme de anime chamado The Door into Summer que está na minha lista negra de animes que nunca consegui assistir porque não há legendas em inglês ou portguês em nenhum canto da internet - Spoiler, durante a minha pesquisa acabei tropeçando num link com um upload com legendas em inglês de The Door into Summer, provavelmente irei assistir ele, me aguardem! - bem, espero algum dia achar alguma sub desse anime, tenho curiosidade em assistir e muita frustração e raiva por não conseguir as legendas, e foi essa raiva e frustração que me impulsionaram a assistir esse anime muito, muito gay - e, diga-se de passagem, eu amei. 



terça-feira, 3 de agosto de 2004

Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 2

2. Super Mario Shirayuki-hime


Hoje, convido vocês para sair um pouco da normalidade, ir para um local onde o Bowser se chama Koppa, o Toad se chama Knopio e o 2º game da franquia de jogos mais famosa da Nintendo é tão difícil de se jogar que eles preferiram lançar uma versão completamente diferente no resto do mundo - só o nome era o mesmo.

O Mario oriental é diferente do Mario ocidental, isso é fato! O bigodudo desse lado do mundo tem diferenças muito claras de como o encanador é retratado no Japão; os nomes, os jogos, até a forma de agir - só eu que sempre achei que o Mario era mostrado de uma forma bem mais ranzinza e enfezada em versões americanas? Quando pegamos uma versão Nipônica do personagem ele aparenta ser bem mais monodimensional do que realmente ele é, além dele não ser tão rabugento, né. É importante salientar que parte da nossa visão do personagem foi influenciada pelas adaptações americanas do encanador, bem, pelo menos, assisti o desenho do Super mario na minha infância, e a versão que eu assistia, era a versão dos Eua.

Tá, e ai? Onde quero chegar com esse papo? Bem, Mario tem origens Norte Americanas, afinal, sua gênese foi como Jump Man no primeiro jogo do Donkey Kong, esse jogo que tem uma forte inspiração em King Kong. Esses encontros e desencontros de mídias Nipônicas bebendo de inspirações Estadunidenses, são muito interessantes porém me causam bastante reflexão já  que - Hiroshima e Nagazaki, né?  

O pós guerra Japonês é algo que me fascina bastante, afinal até hoje vemos resquícios de atitudes e decisões tomadas antes, durante e depois da guerra. Uma coisa importante de se mencionar é que o imperialismo Nipônico está presente na história da animação Japonesa desde seu nascimento; Momotarō: Umi no Shinpei é um filme de 1945, uma animação de 74 minutos, preto e branco, sendo o primeiro longa metragem animado da história do Japão, em resumo: é um filme propaganda. Não irei me aprofundar nesse filme agora, pois futuramente irei escrever um crítica sobre este filme. O que importa aqui, é como o Japão lidou com o imperialismo Norte Americano; quando o Japão se rendeu, eles tiveram que aceitar os termos impostos na declaração de Potsdam, que era uma declaração que exigia a rendição de todas as forças armadas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, aliás, a partir dessa declaração que houve a ocupação dos Eua no Japão, o país que antes era tão cruel tão sedento por dominação, estava sendo dominado - além da ocupação, proibiram o Japão de possuir forças armadas. 

Em 51, as forças armadas americanas saíram do território Japonês, isso por conta do Acordo de Paz de São Francisco; como isso tudo que eu escrevi toca na  produção cultural japonesa? Bem, aquilo que era utilizado para fomentar a raiva popular em relação aos outros países, e construir uma imagem de poder absoluto ao redor do Japão, já não era para isso, na verdade é perceptível a influência de outros países e culturas em trabalhos feitos no pós guerra; Koneko No Rakugaki  filme de 57, é um dos primeiros filmes feitos pela Toei Animation, estúdio esse que adaptou muitos contos europeus para anime, aliás, até hoje o mascote do estúdio é o Gato de botas - que não é da cultura japonesa - mas voltando para Koneko no Rakugai, esse curta contém técnicas de animação que lembram muito os clássicos da era de ouro Disney, clássicos esses que foram utilizados como propaganda para os Eua durante a Segunda guerra - aliás, sabiam que os olhos grandes e expressivos que Osamu Tezuka desenhava eram por conta dos olhos grandes e expressivos que foram desenhados em Bambi, filme esse que inspirou Tezuka a escrever Kimba, o Leão Branco

Vários contos de outros países foram adaptados para animes japoneses - um exemplo disso é a série de séries da Nippon Animation: Sekai Meisaku Gekijō, que contava histórias de vários cantos do mundo, com uma estética bem eurocentrica que até hoje cativa diversos espectadores ao redor do mundo, sem falar do sucesso estrondoso que fez e ainda faz no Japão - até então os trabalhos de animação japonesa em sua grande maioria traziam mais influencias japonesas do que de outros países; E é ai onde eu quero chegar, essa é a maior reflexão que tive quando vi um curta animado do Mario sobre a Branca de Neve, até onde o Japão perdeu sua identidade, se é que o país perdeu sua identidade? Será que o Japão se tornou um mix daquilo que ele queria dominar? Será que ele mesmo se dominou? Essas e outras perguntas sempre me cercam quando termino de assistir um anime, quando termino de escutar City Pop e quando jogo Visual Novels.

Encerro este texto, dizendo que esse é só o começo dos meus textos mais reflexivos, isso aqui é só a porta de entrada para futuras discussões que vamos ter aqui nesse espacinho nosso; espero ver vocês nas próximas reviews, para que possam ver me ver escrever os maiores textos para coisas extremamente simples e vazias. 

Uma animação Japonesa sobre um encanador Italiano interpretando um conto Alemão que se popularizou por conta de uma adaptação em longa metragem feita por Norte Americanos? Que piada!

O Fim de Maio - Quer dizer, Agosto! Isso, Agosto! - Agosto, o mês dos animes (em 2004) - Dia 13

12. Hana No Ko Lun Lun "Ah Gabriel, mas que porra de onde que  t ú tira a xereca desses anime velho do caralho que ninguém conhece?...